terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Nada de novo... nada NOVAmente... nada novaMENTE

O ano acabou e, felizmente, consegui resistir ao irresistível ato de fazer posts depressivos. Algo em mim tem roubado o espaço da melancolia que eu fui um dia. Na verdade, prefiro acreditar que ela constrói fases para me cruzar.

Um autor sem dor perde até a vontade de escrever, pois é a escrita que lhe cura.

Se não há o que calar, para que se dizer?

Mas, estando eu triste ou não, melancólica ou não, fria ou não, o fato é que não deixei de viver: eu ainda respiro e penso - uns fazem apenas o primeiro, outros, de tanto praticar o segundo, quase se esquecem do primeiro; para mim, ambos estão errados.

Começo a ver os inícios de ano conforme a seguinte divisão:

- Os cheios de novos objetivos, chamados realmente de "vidas novas".

- Os cheios de velhas promessas: academia, aula de música, leitura em dia, regime, gastar menos, ser mais caridoso, ser menos egoísta, beber menos, enfim, blás, blás, blás esquecidos até o final do mês de janeiro; quando já se começa a pensar nos pecados e delícias do Carnaval.

- Os aterrorizados com as contas a pagar, oriundas dos inúmeros presentes de natal: os brinquedos já estão quebrados; a saia nem serviu e ela nem vai se dar ao trabalho de trocar; o brinco era realmente barato (era só uma lembrancinha), mas não precisava quebrar, antes mesmo, da presenteada usar... quanto desgaste.

- Os arrependidos por não terem comprado nada para ninguém e agora estão se sentindo culpados.

- Os que começaram o ano com o F...-se mode on.

Eu, só para variar, estou divida entre alguns desses grupos - como se não quisesse pertencer à coisa alguma, nem defender causa nenhuma.

Vejo gente começando: a namorar, o casamento, a faculdade, o terceirão, o estágio, o novo trabalho...

Vejo gente terminando: de namorar, o casamento, a faculdade, o terceirão, o estágio, o velho trabalho...

Se as pessoas pudessem, ao final de cada etapa, olhar o quanto mudaram por dentro em vez de apenas olharem as fotos e se acharem mais estilosas e bonitas do que antes. Se elas pudessem fazer isso, aí sim, os finais valeriam a dura pena que é dar cada passo nessa vida. Elas podem fazer isso, mas não fazem e ainda se sentem no direito de criticar coisas que faziam, mas não querem admitir que erraram. Queremos sempre parecer maduros, corretos, serenos, condizentes, mesmo quando nos referimos a um passado no qual desconhecíamos totalmente o significado de tais termos - se não na teoria, com certeza, na prática. O que está faltando, então? SincerIDADE.

O ano acabou, findou-se, mas não há nada novo, há? Não confunda o ano novo com um “ser” novo – que me desculpem os que já sabem a sutil diferença.

Você se repete e a vida te imita.

Se não podes ter NOVAmente, volte para a sua rotina e apenas se lembre de preencher corretamente o ano nas folhas de cheque, porque isso sim te trará a sensação de que o ano continua velho e cheio de problemas a serem resolvidos.

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. Eu quero te propor um discussão interna:

    Será que não vai além da dor a Nossa motivação? talvez de um desconforto incessante?
    A escrita me parece o bálsamo a esta inquietação da alma.
    Uma vez (até pouco mais de um ano atrás) eu pensava que havia uma pessoa ideal e eu tinha que atingi-la, chagar a sê-la.
    Não. Ideal é existir de corpo e alma, jorrar, manchando tudo que pudermos com nosso sangue, seja nobre ou plebeu, puro ou contaminado.
    A simetria caótica da vida é ininteligível aos nossos debilitados neurônios, então não compensa persegui-la.
    Todos estão errados e certos simultaneamente.
    "Se..."!
    Minha opção maior é permitir-me: acertar, errar, especificar, generalizar, aguentar, fraquejar etc, e sobretudo me orgulhar de todos esses momentos vivos e pulsantes.

    A cereja do sunday: sincerIDADE.

    Só discordo categoricamente em não "'ser' novo".

    Mas deixarei que sua amiga fale por mim a respeito do tópico:
    Água Viva - (o meu preferido da)Clarisse Lispector.

    E sim, você estava certa, nós nos encontramos na nossa sinceridade e mesmo além dela.
    Acabo de me encontrar várias vezes com você.
    Obrigado.

    E tenha um romanceável ano nunca vivido antes!

    Esperando novos encontros,
    D.

    ResponderExcluir
  3. Demétrio,

    - Não sei se vais ler a resposta à discussão interna -

    Aceitando ou não a sua proposta, basta que saibas que sempre estou disposta a ser contestada. Às vezes, isso é mais válido que ser elogiada.
    Já teimei em discordar disto:
    "Todos estão errados e certos simultaneamente."
    Até perceber que eu fazia/era isso o tempo todo.
    Não gosto de cerejas, talvez nem de sundays - do gelado ao dia da semana -, mas "Sim, ser, IDADE" "Sin cer IDADE".

    Não compreendi, ao certo, o:

    "Só discordo categoricamente em não "'ser' novo".

    Também, ao ler o trecho de Clarice (com "c"), até esqueci de tentar entender o porquê de o usares para explicar tua contestação: ela é uma delícia, muito mais que sundays e cerejas.

    Até a próxima. Deixo-te com ela:

    "Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro." C.L.

    ResponderExcluir
  4. Sobre medos e riscos, diria Polito que, "aqui - casa quarto cadeira - aqui - é possível detero mecanismos dos relógios um a um - aqui - depois das montanhas há o mar - depois do mar não há nada - não se aproxima o céu - nem mesmo há terra à vista - aqui - mas há você e este latifúndio de inteligência à espreita de soluções e filosofias - aqui - e há possibilidade de fecundação de sílabas e vogais - sempre há um bom começo - aqui ali acolá e em você". Com defeitos a engrossar o caldo que não arrota a perfeição, mas o humano, sempre há um bom começo para medos e adrenalina.

    ResponderExcluir