Para uma pessoa como eu que vive a prazo, não é difícil falar de crédito pessoal – ou não era.
Sinto que, nos últimos anos, venho perdendo o meu limite de crédito.
Pode ser que eu tenha investido mal; ou simplesmente tenha deixado de investir.
Talvez não tenha feito os pagamentos em dia. Deixando-os vencer um a um.
Pode ser também que tenham descoberto que eu não tinha muito para investir e, assim, cortaram-me da lista dos rentáveis.
Acontece que a moeda em questão não é dinheiro; sobrando, então, a palavra e a ação.
E como nessa história não são os bens e receitas que contam para a concessão de crédito, restam: o amor, o tempo, a fidelidade, a cumplicidade, a paciência, entre tantos outros pontos.
Não perdi dinheiro – coisa que nunca tive muito – mas perdi crédito com as pessoas, desde as mais pessoais até as “impessoais”.
Recuperar esse crédito é tão difícil quanto provar que você deixou de ser ladrão, viciado, mentiroso, corrupto, velhaco... enfim, que você mudou e assumiu novos – e preferencialmente bons – hábitos.
Antes eu ainda tinha a ingênua forma de acreditar que, se existia um culpado, não era eu.
Quando se assume a culpa, ou melhor, deixa-se de procurar culpados, é possível girar o cenário mercadológico e passar a dar valor às ações pequenas e simples, mas necessárias. É possível também ver quão burocrático e questionador anda o seu próprio sistema de concessão de crédito. Afinal, todos nós temos um.
O quanto você tem acreditado no que ouve? Quanto tem parado para ouvir? Quanto tem refletido antes de julgar? Quanto tem procurado sentido para acreditar ou não nas palavras e ações dos outros?
Se o seu sistema de concessão de crédito é – ou está – precário, você não pode simplesmente cortar o limite das pessoas. Esquivar-se delas. Restringi-las. Ignorá-las.
Você pode nem saber, mas, às vezes, as pessoas se perdem quando perdem a confiança de outras. Quando suas palavras, por mais variadas que sejam, trazem sempre as mesmas notícias, apontam sempre as mesmas falhas e reclames.
É preciso ensiná-las a ver o mundo de outra forma e não fechar seus olhos para elas.
É preciso dar sua mão e levá-las a novos lugares, ou mostrá-las novas possibilidades de se chegar ao mesmo local; em vez de cruzar a rua para não encontrá-las.
É preciso emprestar um ombro antes de recomendar um psicólogo.
E, antes de seguir seu caminho, é preciso fazê-las acreditar no valor que a vida tem quando se vive a prazo, sem aquelas pressas que não nos levam a lugar algum.
Você tem o famoso livre arbítrio, mas saiba que esse mercado de relações pessoais é tão instável quanto o financeiro. Um dia, sem mais nem menos, sua vida pode “inflacionar” e, ao precisar de crédito, espero que tenha restado alguém que não vá julgar a forma que você tem investido a sua moeda. Alguém que confie em você quando nem você é capaz de fazer isso.
Para uma pessoa como eu que vive a prazo, não é difícil falar de crédito pessoal – ou não era até perdê-lo.
Direta ao ponto, sua análise. Esclarecedora e despertadora!
ResponderExcluirParabéns pela (auto) análise.
essa é minha irmã!!!!parabenss!
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