De quando em quando, a gente fala de amor ou de dor – geralmente são sucessivos, se não antes, depois –; ou ainda do tempo ou do atemporal, ou de passado ou de futuro, até dos imperfeitos presentes que, se conjugados, seriam sempre uma oração por dias melhores.
A gente fala também de esperança, de Deus, de fé, de suporte... até que não se suporte mais esperar. Então, pra compensar, falamos de amigos, família, trabalho, das paixões que, sendo tão emoção, viram razão de ser.
Nós tecemos críticas sócio-político-culturais, defendemos verbalmente causas pelas quais nem sempre lutamos de verdade. A verdade é que falar desses assuntos nos torna mais gente... grande.
Se tem algo sobre o qual falamos muito, é sobre os outros. Uns falam de todos os outros; outros apenas de uns bem específicos.
Às vezes, confundimos a perda, e falamos da perca de humor, tempo, pessoas (e ressalto sempre: pra vida e pra morte), bens, saúde, chão... Nesses momentos, pisamos no vão que a perda nos engole. Vão dias para que o passo, aprumado, caminhe para outro lado.
Aí, falamos de novo do novo e de assuntos corriqueiros e tipicamente passageiros: tragédias, conquistas, eventos, esporte, mudanças; que apenas ficam na lembrança de um jornal que, no fim, sempre acaba tendo outro fim, além de ser notícia. – E me passa um lampejo de que até o jornal se recicla.
A gente pode falar do que quiser. E mudar o assunto todos os dias. E tentar não ser repetitivo. Não vai adiantar: a gente está sempre, mesmo sem saber, é falando da vida - enquanto ela durar, porque, de quando em quando, ela se vai calada.
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