sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Não tem explicação

Numa sextas dessas, enquanto minha privacidade ia sendo invadida no mundo virtual, e obviamente “segredos” e pensamentos vinham à tona, à frente dos olhos de quem não tinha “conhecimento” suficiente pra interpretar uma só palavra minha - quem dirá uma frase inteira naquele palavreado. Enfim, enquanto muito do meu tempo investido na internet ia sendo absorvido, eu não ia sendo absolvida de meus crimes, e o cantor, no restaurante, tocava “O segundo sol”, da Cássia Eller, a mesma que estou ouvindo agora. E dá vontade de parar de escrever só pra ouvir.

Mas, lá no final da música, que infelizmente chega, ela repete inúmeras vezes a frase “Não tem explicação”. Creio que a repetição seja para insistir que algumas coisas não têm explicação mesmo. Não precisam ter.

Na hora, minhas amigas e eu até rimos do “não tem explicação”, pois era justamente o que eu tinha a dizer ao invasor de minha vida virtual. Coincidência ou não, uma vez ele invadiu meu coração e minha vida real, mas ele tinha permissão pra isso, até mesmo porque nunca fui de ter senhas e códigos pra lidar com pessoas. Ahhh, eu sou muito aberta e direta.

E aí eu fiquei com essa música na cabeça e, quando algo extraordinariamente simples acontece, ela volta a embalar o momento. Eu a ouço quando Deus – ou sei lá quem – decide tirar a vida que deu a alguém. É como se Ele voltasse atrás e quisesse o presente de volta. Choro ao som dela quando caminho e passo por gente catando o que comer. Lembro dela quando a banalidade ou o acaso mudam drasticamente a vida de pessoas. Ou quando vejo se amando pessoas que se odiavam ou diziam se odiar.

Cada um de nós deve ter suas cenas ou acontecimentos que dispensam explicação, afinal somos todos tão diferentes fazendo coisas iguais. Eu tenho tantos outros exemplos mais particulares de coisas que não têm explicação, mas quero me ater apenas ao modo como lido com as pessoas, sobretudo, as desconhecidas e o modo como logo logo elas se tornam conhecidas e bem quistas. Simples assim: eu olho pra pessoa, sorrio, puxo papo, viro íntima e essa, em síntese, é toda (a) história. Só não é assim com quem não quiser, porque eu também gosto de respeitar as escolhas das pessoas mais “reservadas”. E com os “amigos virtuais”, nem a distância é capaz encontrar frieza nas conversas e naquilo que se transforma em relação – de amizade, proximidade e intimidade.

No meio dessas conversas, às vezes, tentamos lembrar como tudo começou, de que forma tudo aconteceu. Puxamos lá do fundo da memória, tecemos alguns elogios e, no fim, a conclusão: não tem explicação. Coisas desse tipo acontecem porque estamos abertos e permitimos que as pessoas ocupem um espaço em nosso interior (ignore se a sua mente – suja – encontrou outro sentido pra frase anterior).

Dia desses, falava sobre isso com uma pessoa que tem seus motivos para não gostar de mim, assim como eu tenho os meus pra não gostar dela. Na verdade, o motivo é singular e não plural. Acontece que a gente se gosta. A gente se respeita. A gente deseja apenas o bem uma da outra. E isso, minha gente, não tem explicação! E, se algum dia, eu e ela estivermos andando aos risos por aí, muita gente vai (se) questionar. Então, já adianto a resposta: algumas coisas são difíceis de explicar, outras nem sequer requerem explicação. A vida é muito curta pra eu ficar aqui me justificando, como tenho feito ao longo dos anos, tentando explicar, às pessoas, primeiramente a minha aversão ao casamento, depois, os mal sucedidos relacionamentos e, inclusive, algumas das escolhas que fiz por acreditar que era amor.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O próximo...

Na ânsia de viver e ser livre, às vezes, nem bem vivemos, nem bem conhecemos o sabor da liberdade. E o livre arbítrio para fazer nossas escolhas? Ele existe. É defendido e aclamado e proclAMADO. E não há por que não usá-lo. E não há por que usá-lo para justificar nossas atitudes nada ou pouco corretas. Aí já pinta a questão dos conceitos de certo e errado, mas, sejamos sinceros, nosso coração bem sabe quando e quanto mal causou. O mundo desaba, pessoas e máscaras vão caindo e, aí, olhamos pra todos – menos para o espelho – com aquela cara de “tenho direito de fazer minhas escolhas e viver”. Claro que sim! Quem disse que não? Mas, se pararmos pra pensar, veremos que muitas dessas escolhas podem interferir mais na vida das pessoas ao nosso redor do que na nossa própria vida. Nesse ponto, pra mim, o livre arbítrio se torna egoísmo. Qualidade nata de todo e qualquer indivíduo subdesenvolvido.


Temos falado muito na tal felicidade, em encontrar alguém que nos faça feliz. Dizem que aí já começa o erro: ninguém poderá nos fazer feliz se não estivermos felizes com nós mesmos. Pode ser. Eu só sei que ninguém é feliz sozinho. Eu não sou, apesar de apreciar momentos a sós.


A aproximação entre as pessoas vai muito além de relações amorosas ou apaixonosas. Precisamos uns dos outros em várias – se não em todas – situações da vida. E eu nem to falando daquele seu melhor amigo mala ou 171 que você não larga e que também vive na sua cola e na sua casa, descolando um rango e até dando uma observada no quanto sua irmã mais nova cresceu. Nem estou me referindo àquela amiga que, mesmo fútil ou inconsequente, sabe o significado da palavra amizade.


Eu estou falando aqui dos colegas de trabalho que podem quebrar galhos quando você precisa chegar atrasado; que dão uma carona; que te enturmam quando você chega de fora; que te dão toques pra que você continue “dentro”. Falo dos vizinhos que recolhem roupas do varal quando uma chuva chega de surpresa; que recebem uma correspondência; que anotam um recado; e, por que não, emprestam aquela xícara de açúcar quando você esqueceu de comprar ou está sem grana. Falo também daquelas pessoas que estão aí em toda parte; que podem ajudar você a levantar de uma queda na rua, mesmo rindo; que dão uma informação quando você está mais perdido que cego em tiroteio; que podem ajudar a carregar alguma coisa; que podem apenas sorrir gratuitamente em um dia ruim. Não posso esquecer dos funcionários de todos os tipos de estabelecimentos que existem, eles estão ali há não sei quantas horas, de pé ou não, atendendo – leia-se, aturando – pessoas como você e eu.


Sei que desconversei um pouco, mas não foi em vão, é preciso considerar toda a gente que nos cerca pra entender quem somos no mundo: apenas mais um que, assim como tantos outros, se vira em dois ou três pra dar conta de tudo. Eu falava de livre arbítrio e egoísmo, não esqueci disso. Falei ainda sobre a felicidade, coisa sobre a qual evito falar, por considerá-la, ao mesmo tempo, simples e complexa demais; e também por não ter argumentos suficientes pra defender minhas teorias que mudam dia após dia.


Não precisava dizer tudo isso se, no fundo, eu apenas queria, de algum modo, me desculpar por todas as vezes que usei o livre arbítrio como justificativa ao magoar pessoas e interferir, até cruelmente, na vida delas; enquanto tinha plena consciência de que havia errado ou continuava errando.


Mas, já que falei, vou concluir com uma interrogação que ficará piscando aqui na minha mente: em vez de procurar alguém que nos faça feliz, por que não pensamos no quanto estamos dispostos a fazer pessoas mais felizes, usando as quatro operações matemáticas: dividindo, somando, multiplicando e diminuindo o que elas precisarem. E prefiro no gerúndio mesmo, que é a vida em ação, o modo com que o tempo conJULGA a gente.


É triste, mas, às vezes, na base do egoísmo ou da falta de coragem de se assumir, perdemos pessoas que se vão por conta daquelas escolhas que julgávamos que afetaria apenas nossa vidinha. Podemos até nos sentir “livres”, mas ficamos presos nesse tando de dor que causamos.


E daí? Daí que a gente olha pra todos, menos pro espelho, e diz: “tenho direito de fazer minhas escolhas e de viver”. Claro que sim. Jamais diria que não.


Ao final, uma oferta: estou doando todos os espelhos lá de casa, mas não sei se há tanta gente assim interessada em se olhar nos olhos.



segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não tá morto quem peleia

Sou uma escritora desesperada por salvar suas – últimas – palavras. Tanto que, antes mesmo de me encontrar com o aterrorizador “cursor da página em branco”, procurei o atalho do teclado para salvar o que viesse a escrever. A vida bem que poderia ter desses atalhos de excluir sem mandar pra lixeira que se torna nossa mente, sempre em busca do futuro enquanto se apega ao passado.

Saí do esconderijo, da cela. Muitos, mesmo presos, estão soltos. Outros, como eu, conseguem transformar qualquer cômodo em uma prisão, até mesmo a vastidão que o horizonte alcança.

Vesti meu casaco marrom de inverno, mas já é verão; pelo menos é o que me diz o calendário. Ele tenta estabelecer contato comigo todos os dias, mas me concentro nas paisagens que os meses estampam e esqueço os números. Nunca soube lidar bem com eles.

E, por fim, como se escrever fosse um ritual, servi uma taça de vinho seco, eu nem gosto, mas foi o que sobrou de ontem. Dizem que a verdade aflora na presença do álcool e é ela que quero: a verdade. Agora estão todos presentes à minha espera.

Já posso confessar, enfim, que falhei: como mulher, como filha, como profissional, aliás, como empregada – ou melhor, colaboradora –, como amiga, como colega, como namorada, como estudante, como ser humano, como sonhadora, e em todas as demais funções que os meus vinte e seis anos assumiram.

Eu fracassei, passei da conta.

Quando comecei a última caminhada, nem deixei grãos ou fitas no caminho para poder voltar caso me perdesse. Eu estava certa de que isso não iria acontecer. Também, as aves poderiam ter comido os grãos e as fitas desbotariam ou quem sabe teriam maior serventia para outra pessoa que por ali passasse. O fato de não deixar rastros tinha muito mais a ver com não querer ser seguida do que com o medo de ter de voltar. Eu quis, sim, deixar tudo pra trás e vi que, ao não olhar pra trás, acabei não vendo a bagagem que estava carregando sobre minhas costas. Então, nada tinha ficado no passado, estava tudo ali tão perto quanto antes de eu partir.

Fui confiante, com uma felicidade rara – do tipo temporária, falsa, mas otimista, coisa que nunca fui. Afinal, não é todo ano que começa com uma formatura depois de quatro anos de suados pagamentos. Nem que se inicia num trabalho novo, na área em que se estudou, com um salário razoável, e em uma empresa promissora. Sem contar em realizar o tão sonhado “morar sozinha”. Quantos anos mesmo eu tinha? Não faz tanto tempo assim, mas parece que sim.

Foi lá nessa cidade ou nessa idade que conheci alguém muito especial, daqueles que o coração vê primeiro, antes dos olhos – porque os olhos, meus amigos, enganam muito.

O computador travou, o vinho está no final e eu também – travei e estou no final.

Reinicio, deixo a taça mais meio cheia do que meio vazia e sinto inveja dela.

Volto ao texto, à história. Onde foi que eu parei? Este foi o primeiro erro: eu não parei.

E aí vieram outros erros e algumas percepções: deixei de lado a família e os amigos também; podemos errar na escolha da área de atuação; o salário razoável se tornou menor que o necessário; dividir apartamento não é morar sozinha; de que adianta ser promissora se as portas não são igualmente abertas pra todos? São as atitudes que tornam as pessoas especiais ou apenas o que sentimos por elas ou ainda o medo de perdê-las?

É, eu tinha vinte e quatro. Uma menina.

Fiquei quase um ano carregando aquela bagagem que achei que tivesse deixado no passado e que estava aumentando a cada dia enquanto eu me fazia de forte até cair física e psicologicamente. Embora eu custasse a acreditar que meus problemas tinham um fundo absolutamente psíquico. Neguei pra todos e o fiz porque consegui me enganar por muito tempo.

Perdi a conta de quantos médicos conheci, quantas vezes fui atendida nos hospitais, quanto gastei em remédios, quanto meus olhos suplicavam ajuda, quanto tempo perdi caminhando sozinha em busca de um diagnóstico aceitável pra mim.

Perdi minha paz, meu descanso, minhas férias, meu sossego e o sono. Coisas que nem o dinheiro que perdi poderiam comprar.

Larguei tudo: planos, especialização, inglês, pessoas, projetos, sonhos...

Passei longos dias no escuro do meu quarto sem querer que o outro dia chegasse. Não era vontade de morrer, mas também não era uma forma de viver. O tempo é mais teimoso do que eu. Ele insiste em chegar e passar.

Quando tento me reerguer, mais um golpe. Nada de inesperado. Capítulo sobre o qual não pretendo/posso/quero/consigo/preciso falar. Saber que algo irá acontecer não é o suficiente para nos prepararmos.

E agora, depois de tanta coisa chorada amargamente, de tantos diálogos ensaiados, tanto desespero, eu estou tentando me arriscar novamente. Não com aquela felicidade rara de 2010, apenas com a consciência limpa de quem deve e quer seguir.

Tenho medo sim, mas estou procurando o que há de melhor em mim e é isso que quero deixar para as pessoas que amo. Mas apenas poderei deixar o meu melhor se eu encontrá-lo e se compartilhá-lo. E, para fazer isso, é preciso estar com essas pessoas que digo amar, as que são especiais pelas atitudes, pelo o que sinto por elas e, sim, pelo medo que tenho de perdê-las.

Eu sou uma escritora desesperada por salvar suas – últimas – palavras. E aqui a ambiguidade me salva. Quero guardar sim o último riso ou choro; as palavras finais, não pra saber o que foi dito, mas para lembrar da voz de quem as disse.

Assim encerro com mais um atalho do teclado. A vida não tem desses, e nem a morte é capaz de nos excluir definitivamente.

domingo, 28 de agosto de 2011

Pode ser difícil, mas vale a pena...

Viver é nascer sem pai e encontrar um, de verdade, aos 7 e outro, de mentira, aos 13; embora a ciência me contrarie.

Viver é tomar café com leite pensando que é achocolatado, irresistível não escrever “Nescau”, mesmo preferindo “Toddy”. Marca que marca.

Viver é dançar sozinha e tão diferentemente desde os 3 anos - porém sem a roupa de lambada de bolinhas brancas.

Viver é guardar o chiclet do final de semana pra fazê-lo durar a semana inteira.

Viver é tomar banho de bacia como higiene e de tanque como diversão. E de chuva pra ver o arco-íris e brincar de vender o barro endurecido das poças, como se fosse chocolate.

Viver é não ter crianças com quem brincar. Aprender a ser sozinha.

Viver é pegar carona com o tio leiteiro pra ir à escola. E de carroça.

Viver é ter apenas uma amiga até a 8ª série. E amá-la até bem mais que o final do terceiro grau, mesmo longe dela desde o fim do Fundamental.

Viver é encontrar o “seu grande amor dos 15 anos” com uma piranha num comício com Matusa – a banda pra quem não sabe (ora! todo mundo sabe).

Viver é fazer um curso no fim de uma estrada de chão sem fim e saber que nunca vai usá-lo pra nada, só pra ficar com amigos e ouvir CPM 22 no busão.

Viver é fazer estágio longe e dormir entre formigas.

Viver é se achar mulher aos 17.

Viver é perder os sonhos cedo demais e ter alguém pra salvá-los.

Viver é fazer muita festa, é ter uma porção de amigos – e seguidores?

Viver é começar uma graduação sonhada. E conhecer aquela que será sua nova família por 4 anos, podendo se tornar parte das suas demais famílias posteriormente.

Viver é não ter dinheiro nem tempo, ter três empregos e dormir pouco.

Viver é ter pessoas que não acreditam no seu potencial. Elas nem sempre são ruins, apenas não querem que você se decepcione.

Viver é ter com quem contar. Amigos de todas as áreas e de todas as horas. Que sabem um pouco de tudo e que te abraçam mesmo não sabendo de nada.

Viver é experimentar coisas novas com amigos numa tarde ou noite de chuva daquela viagem tão planejada que nem a chuva consegue estragar.

Viver é lembrar-se de alguém a cada som de Cazuza, Legião e Engenheiros. E ter vontade de ligar pra pessoa ouvir também, sem ter de explicar aos outros o porquê de fazer isso.

Viver é largar o mundo inteiro pra ficar com aquela pessoa especial que vem da capital.

Viver é fazer tudo sempre na última hora. É virar madrugada terminando trabalho. É correr atrás do bus no dia da apresentação de seminário.

Viver é sair num dia de chuva, pegar mais de um ônibus e mudar todos os planos só para manter sua palavra.

Viver é ficar na casa de um amigo pra economizar tempo e dormir menos horas do que se tivesse voltado pra casa – e conversar de madrugada.

Viver é não entender por que você não viveu a década de 80.

Viver é ter, aos 25, LER, distúrbio de ansiedade, início de depressão e muita coisa pra fazer.

Viver é encontrar uma forma de se reerguer.

Viver é parar tudo por um tempo e redefinir as prioridades.

Viver é ter uma saudade que mata e não pode ser morta. – E isso dói.

Viver é ter medo da incerteza do amanhã.

Viver é pensar a longo e curto prazo. Ter planos A, B e C e saber contar com imprevistos.

Viver é estranho quando não se pensa em construir uma família.

Viver é odiar uma pessoa pelo o que ela é, e depois amá-la pelo mesmo motivo. Principalmente se ela for aquela prima mais bonita.

Viver é encontrar um grande amigo numa pessoa, até então, desconhecida. E, aí, tê-la como amigo ex tunc, embora pareça que seja até anterior ao encontro.

Viver bem é, obrigatoriamente, respeitar as diferenças.

Viver é ter uma alma gêmea que não será o homem com que você vai casar, afinal, ela é sua melhor amiga.

Viver é passar cada verão com pessoas diferentes. E entender que, já que vão acabar, as fases precisam ser aproveitadas.

Viver é não ser morna: ser quente ou fria.

Viver é não ficar em cima do muro e se posicionar mesmo que seja usando a inteligente – ou falsa, pra alguns – imparcialidade.

Viver é assumir que gosta de música sertaneja, é fã da Sandy (o conjunto dela é harmonioso) e que curte novelas e dramas.

Viver é saber que os conceitos de certo e errado variam de acordo com a mentalidade – de quem a tem (se tiver).

Viver é perdoar e, principalmente, se perdoar.

Viver é ter consciência de que, às vezes, vivemos mais para os outros do que para nós mesmos.

Viver é se fazer de vítima e procurar culpados. E cometer pecados.

Viver é aprender a valorizar o tempo sem criar rotina pra tudo.

Viver é amar, sem romancear tudo. Simplesmente se entregar ao que o amor pede.

Viver é, sobretudo, um grande presente ainda com cheiro de passado, mas com sede de futuro. E é preciso ceder pra vivê-lo.

Viver, pra mim, tem sido assim. Diferente do seu modo, mas você é parte do meu.


Dedico esse texto à insônia de ontem e a todas as pessoas que amo - mesmo.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ser de verdade

Não são fáceis os momentos em que se tem tanto pra escrever, mas trava-se ao ver um cursor piscando.

Assim como não são fáceis os momentos em que a gente sabe o que tem de fazer, mas trava na hora de agir.

Poderia ser falta de coragem a semelhança entre esses dois momentos. Mas o primeiro poderia ser justificado com a tal falta da palavra certa. Até mesmo porque a coragem é mais necessária na fala do que na escrita - e, por isso, é tão fácil flertar na internet, leia-se: dizer coisas que você não conseguiria falar pessoalmente (antes que se pense que tenho esse hábito. E daí se tivesse!).

Pra mim, escrever nunca foi problema, embora eu já tenha passado por alguns bloqueios, como o de agora, à procura da palavra certa.

Com o “agir”, não: eu quase nunca soube fazê-lo espontaneamente. Sempre precisei daqueles empurrões básicos dos amigos ou de pessoas próximas e, preferencialmente, ligadas na parada... que a vida não pode permanecer.

Mas, de uns tempos pra cá, ando meio pra lá de Bagdá. Segurando minha escrita, escondendo as palavras certas – que estão longe de ser as mais polidas, delicadas ou adequadas. Toda essa questão de ser vista, “seguida”, “curtida”, lida e, obviamente, julgada, trouxeram-me um medo que eu nunca havia sentido. Não é bem um medo de me expor. É de mudar pra parecer quem não sou. Deixar de dizer o que me faz perder o sono. O que me tira do sério e, assim, me faz rir.

Pode parecer paranóia, afinal, minhas postagens pouco são lidas, mas, ainda assim, alguma coisa mudou e me deu uma vontade súbita de ser anônima pra ser eu novamente. É covardia? Ora, que seja. Seria um bom começo admitir isso pra quem quer voltar a ser de verdade.

É possível que se confunda o “ser de verdade” com o “ser verdadeira”. Basta, então, saber que o primeiro deles é substantivo e o outro um verbo. Enquanto um ser de mentira, eu conjugo a verdade. Estudo, trabalho, me relaciono, digo coisas: tudo de verdade, mesmo sendo alguém de mentira.

Ser mentiroso é uma coisa ruim para as pessoas com quem você convive. Ser de mentira é muito pior, porque há apenas um enganado: você mesmo.

Acontece que eu preciso respirar mais esse ar que me traz à tona; e fica difícil quando a sociedade começa a traçar padrões de politicamente correto, coisa que nunca acreditei existir, ideia na qual nunca me apoiei pra decidir meus passos.

No meio de tanta mentira, tanta corrupção, tantos erros, tantas puxadas de tapete, tantos maus exemplos, tem alguém querendo me dizer o que é certo, e eu acho que ele tá errado (estou tão pressionada que preciso explicar que o singular aqui é o plural de quem quiser usar o chapéu).

O cursor ainda fica piscando, quase que no ritmo que pulsa o coração quando estamos com medo.

Não sei se encontrei as palavras certas, mas, com certeza, ainda não encontrei a coragem necessária para ser. Esse verbo sempre fica pedindo predicativos: ser um bom filho, uma boa amiga, um bom profissional, uma boa companhia. Mas eu quero apenas o intransitivo: eu sou.

Não concordo com o: quem é de verdade sabe que é de mentira. Conheço muitas pessoas que são aquilo – tudo – mesmo e não sabem quem eu sou.

Fico, então, com o: quem é da verdade sabe quem é da mentira. Aí, até pode ser.

Eu sou.