Viver é nascer sem pai e encontrar um, de verdade, aos 7 e outro, de mentira, aos 13; embora a ciência me contrarie.
Viver é tomar café com leite pensando que é achocolatado, irresistível não escrever “Nescau”, mesmo preferindo “Toddy”. Marca que marca.
Viver é dançar sozinha e tão diferentemente desde os 3 anos - porém sem a roupa de lambada de bolinhas brancas.
Viver é guardar o chiclet do final de semana pra fazê-lo durar a semana inteira.
Viver é tomar banho de bacia como higiene e de tanque como diversão. E de chuva pra ver o arco-íris e brincar de vender o barro endurecido das poças, como se fosse chocolate.
Viver é não ter crianças com quem brincar. Aprender a ser sozinha.
Viver é pegar carona com o tio leiteiro pra ir à escola. E de carroça.
Viver é ter apenas uma amiga até a 8ª série. E amá-la até bem mais que o final do terceiro grau, mesmo longe dela desde o fim do Fundamental.
Viver é encontrar o “seu grande amor dos 15 anos” com uma piranha num comício com Matusa – a banda pra quem não sabe (ora! todo mundo sabe).
Viver é fazer um curso no fim de uma estrada de chão sem fim e saber que nunca vai usá-lo pra nada, só pra ficar com amigos e ouvir CPM 22 no busão.
Viver é fazer estágio longe e dormir entre formigas.
Viver é se achar mulher aos 17.
Viver é perder os sonhos cedo demais e ter alguém pra salvá-los.
Viver é fazer muita festa, é ter uma porção de amigos – e seguidores?
Viver é começar uma graduação sonhada. E conhecer aquela que será sua nova família por 4 anos, podendo se tornar parte das suas demais famílias posteriormente.
Viver é não ter dinheiro nem tempo, ter três empregos e dormir pouco.
Viver é ter pessoas que não acreditam no seu potencial. Elas nem sempre são ruins, apenas não querem que você se decepcione.
Viver é ter com quem contar. Amigos de todas as áreas e de todas as horas. Que sabem um pouco de tudo e que te abraçam mesmo não sabendo de nada.
Viver é experimentar coisas novas com amigos numa tarde ou noite de chuva daquela viagem tão planejada que nem a chuva consegue estragar.
Viver é lembrar-se de alguém a cada som de Cazuza, Legião e Engenheiros. E ter vontade de ligar pra pessoa ouvir também, sem ter de explicar aos outros o porquê de fazer isso.
Viver é largar o mundo inteiro pra ficar com aquela pessoa especial que vem da capital.
Viver é fazer tudo sempre na última hora. É virar madrugada terminando trabalho. É correr atrás do bus no dia da apresentação de seminário.
Viver é sair num dia de chuva, pegar mais de um ônibus e mudar todos os planos só para manter sua palavra.
Viver é ficar na casa de um amigo pra economizar tempo e dormir menos horas do que se tivesse voltado pra casa – e conversar de madrugada.
Viver é não entender por que você não viveu a década de 80.
Viver é ter, aos 25, LER, distúrbio de ansiedade, início de depressão e muita coisa pra fazer.
Viver é encontrar uma forma de se reerguer.
Viver é parar tudo por um tempo e redefinir as prioridades.
Viver é ter uma saudade que mata e não pode ser morta. – E isso dói.
Viver é ter medo da incerteza do amanhã.
Viver é pensar a longo e curto prazo. Ter planos A, B e C e saber contar com imprevistos.
Viver é estranho quando não se pensa em construir uma família.
Viver é odiar uma pessoa pelo o que ela é, e depois amá-la pelo mesmo motivo. Principalmente se ela for aquela prima mais bonita.
Viver é encontrar um grande amigo numa pessoa, até então, desconhecida. E, aí, tê-la como amigo ex tunc, embora pareça que seja até anterior ao encontro.
Viver bem é, obrigatoriamente, respeitar as diferenças.
Viver é ter uma alma gêmea que não será o homem com que você vai casar, afinal, ela é sua melhor amiga.
Viver é passar cada verão com pessoas diferentes. E entender que, já que vão acabar, as fases precisam ser aproveitadas.
Viver é não ser morna: ser quente ou fria.
Viver é não ficar em cima do muro e se posicionar mesmo que seja usando a inteligente – ou falsa, pra alguns – imparcialidade.
Viver é assumir que gosta de música sertaneja, é fã da Sandy (o conjunto dela é harmonioso) e que curte novelas e dramas.
Viver é saber que os conceitos de certo e errado variam de acordo com a mentalidade – de quem a tem (se tiver).
Viver é perdoar e, principalmente, se perdoar.
Viver é ter consciência de que, às vezes, vivemos mais para os outros do que para nós mesmos.
Viver é se fazer de vítima e procurar culpados. E cometer pecados.
Viver é aprender a valorizar o tempo sem criar rotina pra tudo.
Viver é amar, sem romancear tudo. Simplesmente se entregar ao que o amor pede.
Viver é, sobretudo, um grande presente ainda com cheiro de passado, mas com sede de futuro. E é preciso ceder pra vivê-lo.
Viver, pra mim, tem sido assim. Diferente do seu modo, mas você é parte do meu.
Dedico esse texto à insônia de ontem e a todas as pessoas que amo - mesmo.
Aaaaaaaiiiiiiii chorei!
ResponderExcluirCoisa mais linda!
Eu tb achava que o lodo sequinho parecia chocolate, é bonito ter esse olhar.
Te amo com todas as cores, olhares e sabores.
Muito lindoooo... amei... eu não era a prima mais bonita, porem a que mais se axava... hehehehe!!!!
ResponderExcluirQue lindo! Adorei o texto!
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