segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Por amor, por você.

TE AMO, MINHA VÉIA!


Vim ao mundo como um brinquedo dado fora de época. Se fosse a uma criança, ela não se importaria, mas adultos são desconfiados. Meu dono nunca quis brincar comigo – por ironia ou simples cumprimento do purgatório, hoje ele não tem com quem brincar – e minha dona até brincava, mas com um tom de obrigação, eu parecia ter me tornado a única opção. Foi a mãe de minha dona quem me fez entender que eu não era, de fato, um brinquedo. Ela não disse nada, apenas me ensinou a ser humana.

Hoje vejo que foi estranho – e, sobretudo, necessário – viver naquela casa, “só tinha teto, não tinha nada”. Banhos? Em banheira de alumínio. Ir à escola? De carroça. Pai? Todo aquele que parecesse homem. Amigos? Os que eu inventava. Brincadeiras? Correr pelas roças de fumo (magnata!!) e oferecer, a invisíveis, o lodo endurecido das poças como se fosse chocolate (ou parecia muito ou eu pouco conhecia chocolate). Ainda bem que a “comidinha” não era de “mentirinha”.

Eu morava lá onde o diabo já tinha perdido tudo, não tinha com quem brincar e, desde lá, passei a admirar a arte de viver só. Eu nem cresci, nem perdi o ar de criança – mas hoje ela dança.

Lembro de poucas coisas da minha infância, mas não posso esquecer do meu desejo de ter uma barbie. Um dia, aquele que dizem ser meu pai me levou uma, mais falsa que as Prada da 25 de março. Nem sapatos a pobre coitada tinha. Não foi lá aquela alegria, mas para quem não tem nada, o pouco basta?

Tempos depois, ganhei uma de verdade – e com sapatos, óbvio!! Brincávamos as três, eu, ela e a “feita de ar”, mas quem não tem uma amiga vazia, não é?

A pobre da “normal” teve como namorados: um palhaço feito de pano, um lápis de cor, um Papai Noel (hohoho), menos o tal do Ken (quem?) – qualquer semelhança com meu presente será mera coincidência. (tá, os meus não são de pano!).

Depois que alcancei a idade que a gente finge não ser mais criança e brinca escondida (até um colega da escola aparecer de surpresa na janela e ver o circo montado na sala, né?), eu e a Thalia – esse era o nome dela – assistíamos a todas as Maris da vida: Mari Mar, Maria Mercedes, Maria do Bairro. Ela não perdia um capítulo.


Fomos “crescendo” e ela cortou os cabelos na esperança de que voltariam a crescer e, quando fazia frio, usava o vestido da amiga falsa, mas não servia muito bem, afinal a sem sapatos era brasileira e a Thalia..., se é que vocês me entendem.

As danadas crescem mesmo, tornam-se independentes. A Thalia calçou os sapatos rosa, vestiu o macacão florido e partiu – também meu coração. Não estamos preparados para perder e isso a gente somente aprende quando temos algo para perder... e o perdemos.

Quando se é criança, os sonhos giram na “ciranda material”, do pagável, do comprável – talvez não por quem sonha, mas por pessoas como eu e você. Difícil é se ter o que o dinheiro não compra, como trazer de volta pessoas como aquela que me fez deixar de ser brinquedo e me ensinou que, depois da tempestade, eu posso colorir um arco-íris só pra mim – e pra quem quiser vê-lo também (SAUDADE, minha véia!).


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Escrevi esta história para participar de um "lance" da empresa onde trabalho. Fui umas das escolhidas e fui premiada com uma linda barbie e com sapatos, como pode ser visto. Valeu, Betha!! Resgatei-me!!


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